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quarta-feira

O QUE SERIA PAI SEM O TEU AMOR?


Pai, tu me criaste com um imenso amor, com um amor eterno. Desde toda a eternidade pensaste em mim e na força do teu amor disseste: “Vive; quero que vivas e que tenhas vida em plenitude, à minha imagem e semelhança, uma vez que eu sou o Deus da vida”. Amar é poder dizer “tu não morrerás nunca” e só tu, Pai, podes chamar-me à existência e dizer-me: “Eu te amo, e tu não morrerás jamais”.
Sou filho, precioso a teus olhos. Conheces-me pelo meu nome, sou teu. Tu me conheces em toda a transparência. Plasmas-te o meu interior e me teceste no seio de minha mãe, formando-me no silêncio das entranhas da vida. Tua mão me segura. Tua destra me conduz pelos caminhos da eternidade.
Amar é sonhar, e como sonhaste grande, Pai, a meu respeito. Tinhas um projeto estupendo para mim, ao criar-me. Como são insondáveis para mim teus pensamentos... Criaste-me para louvar-te e adorar-te, reconhecendo-te como único Deus, o único Absoluto, e reconhe-cendo, na alegria, minha condição de criatura, dependente mas amada, livre mas submissa ao teu amor, prestando-te a homenagem de minha inteligência limitada, pequeno reflexo de tua eterna sabedoria.
Criaste-me também para reverenciar-te, prestando-te a homenagem de minha vontade, con-formando o meu querer com teu querer, como teu Filho, Jesus, para que vivesse na verdade e gozasse da plenitude da vida. Criaste-me, enfim, para servir, prestando-te a homenagem de todo o meu ser.
Pai, tu serves porque amas. Tu és o grande servidor, porque és o Amor eterno. Como teu Filho, que não veio para ser servido, mas para servir, tu, Pai, estás sempre servindo, lavan-do nossos pés, enxugando nossas lágrimas, restaurando nossas esperanças falidas. Olhan-do para ti, Pai, compreendo que o serviço que esperas de mim, não diz respeito a ti, uma vez que de nada necessitas, és a plenitude. O serviço que esperas de mim diz respeito aos homens, meus irmãos: “Pedro, tu me amas? Apascenta minhas ovelhas”.
Que eu possa amar meus irmãos e irmãs no mundo, como tu os amas. Que eu, como tu, enxugue as lágrimas dos seus olhos, lave os seus pés, semeie a vida e a esperança em meu caminhar. Que eu me entregue, como Jesus, de corpo e alma, à construção do teu Reino na história, colaborando, dentro de minhas limitadas possibilidades, para criar um mundo irmão, solidário, justo... porque nisto és glorificado: “A glória de Deus é o homem vivo”.
Tudo o mais criaste para mim, fazendo de mim o rei de toda a criação. Criaste para mim o cosmos misterioso, que me amedronta, com suas galáxias e buracos negros, com suas es-trelas e planetas. Criaste este Universo tão grande, em cujo conhecimento estamos apenas engatinhando, após tanto progresso técnico. Com os dados atualmente disponíveis nossos cientistas, Pai, calculam que, se nosso Universo é redondo, ele teria um diâmetro de 10 a 12 milhões de anos luz!
Diante dessas grandezas e distâncias, o que é a terra que nos deste por moradia, tão mara-vilhosa nos seus oceanos e rios, nas suas montanhas, vales e planícies, nas suas florestas e desertos, nos seus minerais, vegetais e animais?”... e Deus viu que tudo era bom!”.
E eu, quem sou diante de tanta grandeza? Fizeste-me o rei de toda essa grandiosa e mara-vilhosa criação: minhas são as galáxias e as estrelas, meus são os céus e minha a terra e tudo o que a povoa. Deste-me tudo, para que em tudo pudesse louvar-te, reverenciar-te, servir-te. Desejaste que usasse de todas as criaturas livremente, tanto quanto me ajudam a crescer no amor, no dom, e assim assemelhar-me a ti, pois tu és o Amor, o Dom gratuito.
Criaste-me livre, e desejas que eu viva na liberdade, que só é verdadeira e plena no amor. Mas meu coração, Pai, tende a apegar-se desordenadamente às criaturas, e a fazer delas meus ídolos, meus pequenos deuses, a quem presto culto e ofereço incenso.
Com freqüência, Pai, tendo a fazer de mim mesmo o meu ídolo: coloco-me num pedestal, quero ser o centro, o ponto de referência. Meu orgulho, minha auto-suficiência levam-me a prescindir de ti,o único Necessário; levam-me a “cavar cisternas, cisternas fendidas, que não retêm a água”. Então fico confuso, minha inteligência e minha liberdade não tendo outro ponto de referência que a si mesmas, giram sobre si, em um universo fechado, onde não encontro respostas às questões derradeiras que me coloco.
Às vezes, Pai, minha liberdade desordenada tende a agarrar-se às criaturas, na expectativa de que me tragam a plenitude: o dinheiro e as riquezas, com toda a aparente segurança que trazem, são um ídolo cruel e sanguinário, que exige, cotidianamente, o sacrifício de milhares de vidas humanas. Dá-me compreender e viver o que teu Filho disse: “Não podeis servir a dois senhores. Não podeis servir a Deus ao dinheiro”.
O prestígio, a busca de “status” e projeção, o desejo de ser conhecido e de ter um nome na terra, é outro ídolo freqüentemente presente em minha vida. Sutilmente, Pai, sou levado a apropriar-me dos dons, talentos e qualidades que me deste, para minha própria exaltação, buscando a estima e a honra dos homens e deixando, em segundo plano, a glória que vem de ti. Não tenho o suficiente espírito de pobreza para reconhecer que tudo recebi de ti, e de ação de graças para agradecer-te pelos talentos recebidos. Não tenho suficiente disposição para colocar estes talentos a serviço da comunidade e do Reino, para que os homens, ven-do minhas boas obras, glorifiquem a ti, Pai, que estás nos céus, e não a mim.
Muitos outros ídolos, Pai, ameaçam continuamente tomar o teu lugar em minha vida: a saú-de, a vida longa, o prazer, o saber, o poder, o possuir... “bezerros de ouro”. Com freqüência, em vez de um Deus a quem seguir e submeter-me, prefiro um bezerro de ouro, ao qual pos-sa conduzir segundo os meus caprichos, e então torno-me escravo e perco a minha liberda-de.
Pediste a teu servo, Abraão, que te sacrificasse o “único filho”, e ele não hesitou, porque, para ele, só tu, Pai, eras Deus, e nenhuma criatura ocupava teu lugar em seu coração, nem mesmo seu filho, Isaac. Teu Filho, Jesus, disse: “Se tua mão te escandaliza, corta-a... se teu olho te escandaliza, arranca-o...”. Pai, ajuda-me a ser livre, arranca-me das prisões e dos apegos desordenados que me encerram, para que possa respirar um ar puro e abrir-me a um Mais, a horizontes mais amplos e iluminados, num crescente desejo de gastar a minha vida pelo Reino, grão de trigo que morre nos sulcos da história para gerar vida.
Dá-me, Pai, ser livre como teu Filho, Jesus, o Homem livre por excelência. Lendo os Evan-gelhos, respiro um clima de liberdade e confronto-me com um Homem livre, livre diante dos homens, diante das ideologias reinantes, dos grupos de pressão... Livre perante as tradi-ções, leis e autoridades, livre perante a sua vida e a sua morte. Onde encontrar a raiz desta liberdade pura? Creio, Pai, que essa raiz és tu. Jesus foi livre porque te encontrou, acolheu o teu amor, sintonizou o seu querer com o teu querer, não teve nenhum ídolo. Ele é o cami-nho. Que eu possa segui-lo para ser livre e amar como ele amou. Tem compaixão de mim, para que eu possa aprender contigo a ter compaixão de meus irmãos, e, na tua imensa bondade, conduze-me pelo caminho da eternidade.

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